Através
de pequenos capítulos, este livro narra a vida e as tragédias de uma família.
Cada capítulo corresponde a um episódio, sendo estes frequentemente fechados,
ou seja, há uma narrativa com princípio meio e fim em cada capítulo. Contudo,
as pequenas farripas libertadas de cada teia de ação irão entrelaçar-se nos
capítulos finais.
Este
não é, definitivamente, um livro para ler levemente. Com efeito, os capítulos
oscilam no tempo, situando-se entre o pós primeira Guerra Mundial e o início
dos anos 90. E tão depressa estamos em Portugal, como em África, Áustria ou
Buenos Aires. O autor tem uma escrita escorreita e razoavelmente refinada. Usa
e abusa de duas figuras de estilo: enumeração e repetição, como podemos ver
pelo excerto abaixo:
“Depois de novo o silêncio. Silêncio.
Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Até que, com a mão direita,
procurou o ralo por baixo da nuca e destapou-o. O corpo começou a emergir lentamente.
Primeiro os olhos. A testa. Depois a boca. O queixo. As orelhas. Os mamilos. A
barriga. Os pés. As pernas. Os ombros. Os braços. As mãos. Os dedos. Toda.”
(p.129)
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