Este livro não é um livro de contos nem de crónicas. Não é tão
pouco um romance histórico, um simples livro de memórias ou até de etnografia.
E tem um pouco de tudo isto (e talvez mais), sem caber exatamente em nenhuma
destas categorias. Porque temos esta terrível mania de classificar um livro
como pertencente a determinado género (literário ou não), temos hoje este livro
que não se pode enquadrar necessariamente em nenhum destes géneros (dificuldade
essa bem sentida por um dos apresentadores da obra, no seu lançamento).
Contudo, não deixa de ser um excelente livro. Ou talvez seja precisamente por
isso que o seja.
Com efeito, assiste-se aqui a uma notável mistura de memórias do
autor em diversos locais, sendo Almeirim um deles. Mas não é o Almeirim de
hoje, mas sim o dos três primeiros quartos do séc. XX, com as suas
personalidades da época, lojas e tascas. Um Almeirim já desaparecido e que o
autor vem imortalizar nestas páginas. Em torno destas surge a estória de algo
ou alguém, verdadeira ou ficcionada? Quem saberá?
No lançamento, o próprio autor assumiu esta obra como uma
mistura entre ficção e realidade. E pode afirmar-se que, sem dúvida, a mistura
resultou num belo pedaço de literatura, que proporcionará a quem conheça
sobretudo Almeirim, mas também Milfontes, Coimbra, Lisboa ou o Porto, voltar a
visitá-los com outros olhos.
De toda a obra destaco o seguinte excerto, por nos transportar
precisamente para outro momento da história. Onde a vivência escolar era bem
diferente de hoje:
“A escola tem uma torre
com um relógio e um sino… Para chegar à sala das aulas é preciso subir umas
escadas muito altas de madeira que range. O que a rapaziada mais gosta é de
ouvir a sineta para as brincadeiras do recreio e o que gosta menos é das
reguadas. Os rapazes têm salas e recreios separados das raparigas por causa das
coisas.” (p.60).
Para além disto, e para acentuar a pluralidade desta obra (o
será a sua singularidade?), esta está pontuada com várias ilustrações, feitas
pelo autor ou por amigos seus, que lhe dão outro colorido, apesar de serem a
preto e branco.
Uma obra ímpar, que vem, sem dúvida, enriquecer o nosso panorama
literário.
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