"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Mar Novo, de Sophia de Mello Breyner Andersen


Mar Novo é o quinto livro de poesia de Sophia de Mello Breyner Andersen, publicado pela primeira vez em 1958. Os poemas que constituem a obra são de forma irregular, podendo assumir, entre outros, a forma de sonetos (Corpo), quadras (Lusitânia) ou simples dísticos (Deus é no dia). Com uma temática recorrente no mar (Longe o marinheiro tem/ uma serena praia de mãos puras) e na mitologia (soneto “as três parcas”), cremos ser com estes dois aspetos que se pode definir esta obra.

Não deixa contudo de ser curioso que um dos títulos de um dos poemas seja “Liberdade”, atendendo ao período de repressão e censura que se vivia em Portugal à época da publicação do livro. O poema em si, a nosso ver, nada tem que pudesse despertar ímpetos mais revolucionários. Talvez por isso tenha sido deixado passar, pois assim poderia contribuir-se para a chamada “aparente liberdade” que era preciso que o regime soubesse dar.

Cremos ainda poder dizer que há um lamento, com um roçar da ironia, feito por Sophia, pelo estado da poesia, onde nos brinda com a seguinte quadra:

A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou
Que alta noite a encontrei perdida

Num bordel onde um morto a assassinou.

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