"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

sábado, 14 de junho de 2014

Uma Fazenda em África, de João Pedro Marques


Publicado em 2012, este é um romance histórico que não gira em torno de uma personalidade ilustre, mas sim sobre um conjunto de colonos portugueses que emigraram de Pernambuco (Brasil) para Moçâmedes (Angola). A ação desenvolve-se em meados do séc. XIX, e apesar de não podermos considerar Benedita como protagonista, esta assume sem dúvida uma certa centralidade na obra.

Benedita Sepúlveda é uma personagem complexa, que vai de pouco mais que uma criança abandona à sua sorte, casada com um homem que a maltratava e violentava, evoluindo para uma quase mulher-fatal por quem os homens se apaixonam seduzindo e mantendo o interesse deles sem nunca realmente se comprometer com estes. Assume também por vezes uma personalidade calculista, que chega a ser um dos pilares para ser uma mulher de sucesso em África.

A obra é difícil entrada. As primeiras páginas são bastante difíceis de digerir. Da mesma forma, o final deixa bastante a desejar. Com efeito, a história fica no ar, possivelmente por ficar com a eventual hipótese de fazer uma continuação deste livro.

Há a destacar as notas de ironia existentes entre os brancos que se tentam fazer com que os seus costumes ocidentais vingarem numa África com uma cultura tão diferente, gerando momentos como este:


Dois criados pretos, espartilhados em cerimoniosas farpelas e luvas de uma alvura imaculada, circulavam em volta da mesa, apressados nos seus gestos lentos e um pouco perdidos nos rituais e etiquetas dos brancos.” (p. 85)

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