"Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo."
Bernardo Soares
Livro do Desassossego

domingo, 18 de janeiro de 2015

Os Pilares da Terra, de Ken Follet


Depois da “Crónica de Santo Adriano”, de João Aguiar, não poderíamos ter mergulhado melhor numa outra obra. Tão boa quando a anterior, mas totalmente diferente dela. Os Pilares da Terra foram publicados pela primeira vez em 1989 em Inglaterra, de onde o seu autor é natural. Em Portugal, a tradução foi lançada apenas em 2007, dividida em dois volumes que totalizam cerca de 1100 páginas.

É aquele livro que agarramos e não conseguimos largar até chegar ao fim. Tom Pedreiro, Ellen, Alfred, Prior Philip, Jonathan, Aliena, Waleran Bigod, William Hamleigh e tantos outros que nos prendem e nos fazem acompanhar as suas vidas. Com efeito, visto que a narrativa decorre ao longo de uma parte considerável do séc. XI, acompanhamos algumas das personagens desde o seu nascimento até a uma idade considerável. Assistimos igualmente a nascimentos e mortes. A invasões e a guerras. Mas o grande pano de fundo deste romance histórico é mesmo a construção de uma catedral. É torno dela que tudo gira. Por ter uma ação narrativa tão alargada no tempo, permite não só uma maior construção das personagens, como também conhecermos a sua própria evolução ao longo da vida.


Uma obra bem construída que jamais se conseguirá resumir sem perder o seu próprio brilho. Se é muito boa, o final é apenas bom. Com efeito, apesar de tudo convergir para o final em causa (ou para os “finais” das várias personagens), este escorre muito rapidamente, sem o brilho da restante narrativa. Contudo, não deixa de ser um dos mais fantásticos romances históricos que já lemos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Trilogia “Crónica de Santo Adriano”, de João Aguiar


“Crónica de Santo Adriano” foi o nome que João Aguiar deu a um conjunto de três livros seus, sequenciais cronologicamente falando, apenas no seu foro íntimo, segundo palavras do próprio. São eles “Os comedores de Pérolas” (1992), “O Dragão de Fumo” (1998) e “Catedral Verde” (2000). Tem como protagonista Adriano Carreira, jornalista e escritor, marcado pela vivência com a cultura macaense e pela sua ligação a Portugal. Este é um dos panos de fundo das obras: os momentos pré-passagem de Macau, o Dragão de Fumo, ao domínio chinês.

Se os dois primeiros livros se passam em Macau, entre aventuras e desventuras de Adriano Carreira e da sua filha, o terceiro passa-se em Portugal, e “corre” no momento em que é feita a transferência do território para a China. A obra é pontuada por uma enormidade de pormenores que revelam um verdadeiro conhecimento por parte do autor da cultura e da vivência macaense. Enquanto que os dois primeiros livros são obras de ação, isto é, existe uma intriga, quase que policial, que envolve toda a narrativa, “Catedral Verde” é essencialmente uma busca pela própria descoberta do protagonista. Com efeito, “mergulhamos” dentro deste, de uma forma bastante singular, acentuada pelo facto deste último volume ser narrado na primeira pessoa.


É uma obra que se pretende devorar. À medida que se vai lendo, quer saber-se sempre mais e ir mais além. Sem dúvida uma das melhores leituras dos últimos tempos.